quinta-feira, 14 de junho de 2012

Nos arredores de La Paz: Chacaltaya e Valle de la Luna

A 35 km de La Paz, na cordilheira real, se encontra a estação de esqui de Chacaltaya, a 5.300 msnm. É a estação de esqui mais alta do mundo, porém hoje em dia não há mais neve suficiente e ninguém consegue esquiar, tudo culpa do aquecimento global.  O Cerro Chacaltaya está situado a 5.421 m e numa de suas encostas há um glaciar que vem diminuindo gradativamente desde os anos 1940, e isto é um fato preocupante pois estes glaciares abastecem os rios na estação seca e o seu desaparecimento dimuinuirá a vazão dos rios. Curiosamente a estação só funcionava durante o verão, pois os meses úmidos proporcionavam a neve.
Chacaltaya (encosta nevada) visto da estrada de cascalho.
Alpacas no caminho para Chacaltaya.
Nós pagamos um táxi para nos acompanhar o dia todo (Bs400 = R$100), mas existem vans que fazem o passeio por Bs100/pessoa. O interessante é que nosso taxista Augustín não conhecia o local e prometeu levar a família. O caminho para Chacaltaya é de rípio (espécie de cascalho) e bem conservado, passa pelo canal de água bruta que abastece La Paz. A água de La Paz é diferente, o sabonete e a pasta de dente quase não fazem espuma, creio que tenha muito carbonato. De alguns pontos da estrada é possível avistar o lago Titicaca e também o majestoso Huayna-Potosí com seus 6.088m.
Canal de água bruta que abastece La Paz.
Posando para o Huayna-Potosí nublado ao fundo
 Subindo para a estação, pelos estreitos cortes na rocha da estrada, minha mãe começou a perceber uma chuva diferente, era a neve que pela primeira vez presenciávamos caindo, foi muito bonito pegar os flocos que pousavam na roupa, em alguns flocos até podíamos ver as tão faladas geometrias de beleza inigualável. Quando chegamos no abrigo Chacaltaya eu estava bêbado pela altitude, Denise e Ester nada sentiam, que incrível isso! Acho que consumo mais oxigênio do que elas. A temperatura estava na casa dos -6ºC, e mesmo assim resolvi subir o Cerro, tomando neve no rosto, só conseguia dar 10 passos seguidos e tinha que parar e respirar, foi árdua a caminhada, mas como estava ali tive que subir, quem saberia quando outra oportunidade como essa iria aparecer.
Chegada ao abrigo Chacaltaya (estação de esqui) sob neve a 5.300 msnm.
No cume do Cerro Chacaltaya a 5.421 msnm.
 A subida ao Chacaltaya foi uma oportunidade única de estar a mais de 5.000 m sem ter que escalar uma montanha (o que ainda pretendo fazer), e sentir o que é o ar rarefeito. Um dia após este passeio tive que ir ao médico pois estava com dor de cabeça, o doutor me explicou que meu coração teve que bater mais rápido e forte para compensar a falta de oxigênio e por isso a pressão sanguínea aumentou e causou dor de cabeça e também tive uma disritmia cardíaca e tomei um remédio para voltar a regular os batimentos (creio que me esforcei demais subindo o Cerro).
Em contraste com a altitude do Chacaltaya rumamos para a zona sul de La Paz, onde fica o Valle de La Luna, uma região a menos de 3.000 msnm e com a temperatura na casa dos 20ºC. É esse contraste que leva as agências de turismo a visitar Chacaltaya e o Valle no mesmo dia, para que o viajante sinta a influência da altitude no clima. O Valle fica em um trecho do Rio Choqueyapu à jusante do centro da cidade, e nessa região se localizam os bairros mais nobres de La Paz, onde vivem os habitantes com ascendência europeia. Percebam os contrastes: a população mais pobre vive no altiplano onde é frio e o ar é rarefeito, e os ricos vivem no clima ameno com mais oxigênio!
O horizonte visto do Valle de la Luna. Vista para jusante do vale (que é também o sul).
O Valle de la Luna é uma formação sedimentar de argila que se assemelha à paisagem do nosso satélite natural. A erosão esculpiu distintas formas no material, e por meio de trilhas, o visitante explora o sítio, cruza algumas pontes de madeira, para em alguns mirantes e tenta encontrar as formas de animais que constam nas placas indicativas. A trilha não é exaustiva e qualquer pessoa desacostuma à caminhadas é capaz de percorrer, na verdade há mais de uma trilha, mas recomendo a completa. Nesse dia fizemos nosso último passeio em La Paz, para no dia seguinte rumar ao grandioso Salar de Uyuni.
El salto de la viscacha (roedor andino). Não me perguntem aonde!







domingo, 3 de junho de 2012

Nos arredores de La Paz: Sítio Arqueológico de Tiwanaku.

Como ocorre em quase todas as cidades do mundo, muitos dos atrativos de La Paz estão localizados fora da área urbana. O sítio arqueológico de Tiwanaku (ou Tihuanaco) dista uns 70 km da capital boliviana, indo em direção ao lago Titicaca. Foi ali, às margens do lago, que floresceu uma próspera cultura por volta de 1.500a.C. Inicialmente os tiwanakotas eram agricultores prósperos que irrigavam suas plantações com canais vindo do lago titicaca, o excedente de produção permitiu e promoveu o aparecimento de um núcleo urbano, e este núcleo se tornou referência na religião, astronomia e arquitetura.
Vista geral do sítio arqueológico de Tiwanaku, situado a mais de 3.800m
O sítio arqueológico possui uma pirâmide, alguns portais de entrada do templo, e alguns monolitos (estátuas gigantes). Os muros laterais da pirâmide possuem encaixe perfeito entre os blocos de pedra, os monolitos lembram muito os da Ilha de Páscoa, o que me fez recordar da teoria do explorador norueguês, Thor Heyerdahl, que no livro A Expedição Kon Tiki sugere que os povos sul americanos povoaram as ilhas do Pacífico e chegaram até a Polinésia em suas jangadas de tora de balsa (Ele as reconstruiu e fez a viagem do Peru à Polinésia que durou 101 dias em 1947!).
Um monolito esculpido na rocha Andesita (Andesito). Notem a estratificação do material.
O entalhe das pedras é bem preciso.
Os portais do templo foram executados com maestria e precisão cirúrgica, eles dominavam o trabalho com metais, há quem diga que os Incas incorporaram muito de seus conhecimentos. Há um museu onde se pode entender toda a cronologia da civilização, admirar as cerâmicas e artefatos metálicos daquele povo e diversas outras informações. O colapso desta civilização não é consenso entre os pesquisadores, todavia acredita-se que um período prolongado de seca fez baixar o nível do Titicaca, prejudicando as plantações que eram a base econômica da sociedade. Aqueles que gostam de história, como eu, devem visitar Tiwanaku!
Los gringos de la promoción (excursão). Brasil, Itália, França, Eslovênia e  EUA representados na mini Babel. 
Para fazer este passeio basta consultar uma das inúmeras agências de turismo da Calle Sagárnaga ou diretamente no seu hotel. As vans saem pela manhã e voltam no meio da tarde. Nessas excursões se conhecem pessoas de todo o mundo e se iniciam muitas amizades de Facebook, que podem vir a se tornar possibilidades de hospedagem em futuras viagens. Os turistas também trocam muitas informações e dicas de viagem entre si, um casal de franceses nos indicou onde nos hospedar em Uyuni e nós os retribuímos dizendo onde comer bem em La Paz, dentre milhares de outras conversas em que cada um relata as qualidades e defeitos de seu país. Houve um momento no caminho para Tiwanaku em que eu estava falando (ou seria enrolando) em 3 línguas ao mesmo tempo, quando dei por mim falava português com o americano, inglês com o boliviano e espanhol com a minha mãe....são ossos do ofício!