terça-feira, 29 de maio de 2012

A cidade de La Paz - Parte II

Continuando nossa caminhada por La Paz, nós três (Daniel, Denise e Ester) visitamos o recém criado Parque Urbano Central, que ocupa o vale e as encostas íngremes do Rio Choqueyapu, este se encontra tamponado (canalização fechada) em alguns trechos. Essa foi uma maneira de se criar uma área verde e remover edificações das áreas de risco, pois a questão dos movimentos de solo é muito mais grave do que as que existem nas áreas de risco do Brasil, lá a topografia e o tipo de solo são mais favoráveis a este fenômeno. O parque ainda é pouco frequentado pelos turistas, creio que por ser novo, contudo é um local agradável para passear e admirar os jardins.
Aspecto do Parque Urbano Central.
Algumas passarelas permitem a passagem sobre o sistema viário que secciona  o parque.
Inicialmente os colonizadores haviam fundado a cidade de Nuestra Señora de La Paz no altiplano, onde hoje fica El Alto, mas as intempéries do clima (vento e frio) obrigaram a mudança para o vale do Rio Choqueyapu. O vale é bem profundo e em nossa andança passamos por novas pontes estaiadas que ligam os lados da cidade, provavelmente obras de construtoras brasileiras, são locais de onde se podem tomar fotos magníficas. 
Ponte estaiada recém construída que liga os dois lados do vale do Rio Choqueyapu.
Encontramos numa destas pontes, próxima à residência oficial de Evo Morales, Paola, uma advogada boliviana que andava com sua filha pequena, muito gentil ela nos explicou aspectos gerais de La Paz e da Bolívia, também nos convidou para conhecermos sua casa e tomarmos refrigerante. Após trocarmos e-mail e facebook, a gentil Paola nos encaminhou a um táxi e resolvemos fazer um city tour de 2 horas pelo qual pagamos 80 bolivianos (equivale a R$20 por 2 horas de táxi, algo impensável em terras tupiniquins). 
Nossa amiga boliviana Paola e sua filha, caminhando numa das pontes estaiadas.
O taxista nos levou em alguns miradores e subimos até o altiplano, onde vimos muita pobreza e sujeira, como em toda periferia latino americana. Lá no altiplano a vista é esplêndida, o Illimani ao fundo da cidade proporciona uma figura única e também se pode avistar o restante da cordilheira real resumida na imagem do Huayna-Potosí (6.088m). Existem muitas feiras livres no altiplano, cuja função é receber os produtos agropecuários de várias regiões do país e abastecer a cidade, antigamente o trem realizava o transporte, mas hoje o rodoviarismo avança sobre a Bolívia. Muito pela influência do Brasil, que tem investido na construção de estradas de rodagem, muitas das quais com cruzamentos em nível com ferrovias, praticamente um decreto de morte a este modal tão importante de transporte. Eu que sou um apaixonado por trens e ferrovias me senti mal porque meu país além de desmantelar as suas ainda colabora com dilapidação do patrimônio alheio, malditos interesses econômicos!
Local onde o altiplano se abre para o vale, ótima vista do Illimani.
Nosso taxista me fez repensar sobre o conceito de espanhol fluente, pois até então eu me julgava bom na língua de Cervantes, me comunicando bem com as pessoas, mas aquele homem bem nutrido e apreciador da boa alimentação falava enrolado e me exigiu um esforço acima do normal para compreender suas palavras. É comum na Bolívia e no Peru que as pessoas falem ou compreendam a Lengua Quechua, herança dos incas, mas esta língua está se perdendo com o passar do tempo. E na Bolívia é também comum o idioma Aymara, que se fala mais no sul do país (região de Oruro), digo isso pois nosso taxista era descendente de Aymaras e não sabia falar a língua, mas a pronúncia do seu espanhol sei de onde veio!

Na Avenida Busch nº986 o taxista nos deixou no restaurante La Chuquisaca, especializado na comida típica da região de Sucre, notadamente o chorizo chuquisaqueño, que foi a melhor comida que provei em nossos 28 dias de viagem pela Bolívia e Peru. Nem mesmo na cidade de Sucre, que visitamos posteriormente, consegui encontrar comida típica tão deliciosa, por isso deixo a dica aos que forem a La Paz. Lembro que nós três comemos muito bem pagando Bs.120 (R$30) e isto é um padrão alto para o boliviano comum, os preços na Bolívia são realmente muito baratos para os brasileiros, o real está muito forte em relação ao boliviano de tal maneira que se pode ter uma viagem de padrão alto gastando pouco em comparação aos outros países da América do Sul.
Uma mostra da deliciosa comida chuquisaqueña. 
Toda esta caminhada resultou, para mim, em pressão alta e dor de cabeça (que raramente tenho no Brasil), pois não me aclimatei aos 3.600m da cidade e logo nos primeiros dias já saí caminhando. Tomando mate de coca obtinha alívio do sorochi (mal de altitude) por uns minutos e depois os sintomas voltavam, também masquei a folha que chega a deixar a língua amortizada e dava na mesma, alívio momentâneo. Cheguei à conclusão de que a coca somente mascara o sintoma do sorochi e o melhor a se fazer nesses casos é tomar o sorochi pill, um remédio encontrado em qualquer farmácia e que resolve o problema, e foi o que fiz.




domingo, 27 de maio de 2012

Uma viagem à Bolívia: A cidade de La Paz.

Fazia alguns anos que minha mãe havia lançado a ideia de visitar a Bolívia, mas as condições econômicas não eram tão favoráveis e minha mãe trabalhava em São Paulo sem dispor de tempo para tal. O tempo passou e meu gosto por montanhas foi aumentando, pois conheci muitos dos picos da Mantiqueira enquanto fiz mestrado em Itajubá. 
Depois que comecei a trabalhar em São Paulo surgiu a oportunidade de visitar o país andino em minhas primeiras férias remuneradas, e em janeiro de 2011 comecei a estudar bastante sobre a Bolívia, li relatos de viajantes e guias turísticos, também passei horas em frente ao Google Earth visitando remotamente aquele país e vendo as fotos do Panoramio que as pessoas postavam.
Inicialmente cogitei a ideia de ir de carro até La Paz, mas os mais de 3.500 km que a separam de Atibaia não me inspiraram confiança, e o tempo era escasso para tal, embora reconheça que teria sido uma viagem e tanto! Marquei minhas férias para Outubro e comprei as passagens para o dia 2 daquele mês de 2011, voamos pela companhia aérea TACA, cujos serviços temos muitos elogios a tecer. O voo fez escala em Lima, pois assim era mais barato, e, curiosamente, Lima era o destino final de nossa viagem (mas só pudemos observá-la do Aeroporto naquele momento).
No aeroporto de Lima já tomei um chá de coca pois estava preocupado com a altitude de La Paz, afinal o aeroporto se localiza no município de El Alto, situado a uns 4.050 msnm (metros sobre el nivel del mar). Realmente quando desci do avião percebi que meu coração batia mais rápido, mas não senti falta de ar, embora estivesse com um leve torpor, algo parecido com a sensação de embriaguez. Minha mãe (Ester) e minha irmã (Denise) nada sentiram, a contradição é que eu (Daniel) havia pago um seguro viagem preocupado com a saúde delas!
Tomamos um táxi do Aeroporto até o hotel que ficava no bairro de El Prado, custou U$13 mas normalmente custaria 10 (tudo previamente combinado, não há taxímetro), era madrugada do dia 03/10/2011 e o taxista disse que não estava tão frio, embora estivesse 4ºC, pois em junho/julho do mesmo anos uma onda arrasadora de frio matou muitos moradores de rua. Ainda paramos em um mirante para tirar fotos da cidade e suas luzes noturnas.
Vista noturna de La Paz
Mal consegui dormir naquele finalzinho de noite, não sei se pela altitude ou pela expectativa, e logo que raiou o dia, a segunda-feira se mostrou bem ativa e a avenida em frente ao hotel começou a se encher com o trânsito matutino e desordenado da cidade. Nosso hotel ficava em frente à Plaza del Estudiante no belo bairro de El Prado, um pouco ao sul do centro da cidade, porém muito mais agradável do que as ruas apertadas do centro. Mas depois chegamos à conclusão de que o melhor custo benefício seria nos hospedarmos no Hostal Nayra, que fica ao lado da Plaza San Francisco, que é o coração turístico da cidade, entretanto já havíamos deixado pago o Hotel El Dorado aqui do Brasil, mas não o recomendo!
Vista da nossa janela: Plaza del Estudiante no bairro El Prado. Ótima localização.
Logo saímos para andar nas redondezas, tudo era novidade e avistar o Illimani e seus 6.422 msnm foi deslumbrante, as neves eternas lá estavam ao fundo do vale qual fossem uma pintura na tela azul do horizonte. Andamos pelo parque urbano central e paramos para tomar gaseosa (refrigerante) na tenda de uma chola. A cidade me pareceu bucólica, como se houvesse parado no tempo, percebi alguns homens com chapéu, algo que gosto tanto mas quase não uso no Brasil por vergonha. 
Vista do Illimani (6.422m) e suas neves eternas na tela do horizonte.
Os belos e bem cuidados jardins de El Prado.
A informalidade predomina, seja no comércio onde existem as cholas que vendem de tudo em suas barracas (até mesmo no chão), seja nos transportes onde existem os minibuses que são equivalentes às nossas lotações, qualquer um pode pintar seu carro de táxi e sair transportando pessoas, mas os rádio-táxis são os melhores e mais seguros e podem ser reconhecidos por possuírem um letreiro em cima. O país não possui indústrias de tal maneira que esta foi a maneira de a grande maioria da população urbana conseguir prover o seu sustento.
Uma chola com sua barraca onde de tudo se encontra.