sexta-feira, 2 de setembro de 2022

A hipótese de desorientação no Pico dos Marins: caso Marco Aurélio Bezerra Bosaja Simon, junho de 1985.

Publico aqui, texto que escrevi baseado em meus estudos sobre o caso do escoteiro Marco Aurélio. Veja aqui o texto completo com as figuras em PDF.

1      Contextualização

Este texto nasce de uma abordagem geográfica do caso de desaparecimento do escoteiro Marco Aurélio Bezerra Bosaja Simon durante ascensão ao Pico dos Marins em junho de 1985. Pretende-se extrair e organizar informações espaciais a partir dos registros do caso (livro, inquérito policial, jornais e entrevistas). Outro objetivo é traçar um paralelo do caso Marco Aurélio em 1985 com o caso Gilbert Eric Welterlin em 2018 que permite desenvolver a hipótese de desorientação do escoteiro e demonstrar ser esta a mais provável causa do desaparecimento. O presente documento será atualizado conforme surjam novas contribuições e informações.

2      Resumo do caso

Corria o ano de 1985 e durante o feriado de Corpus Christi um grupo de quatro escoteiros e seu líder empreenderam uma tentativa de subida ao Pico dos Marins. Marco Aurélio Bezerra Bosaja Simon, então com quinze anos, encontrava-se descendo a montanha com os demais, pois não alcançaram o cume devido a contusão de um dos escoteiros. Porque a descida do debilitado demorasse, Marco Aurélio se voluntariou a descer na frente em busca de auxílio para o grupo. Eram 14h do dia oito de junho e Marco Aurélio partiu na sua missão, porém não foi mais visto. 

3      Descrição da subida ao Marins

O Pico dos Marins é uma montanha da Serra da Mantiqueira com altitude de 2.422 metros acima do nível do mar. O cume se localiza no município paulista de Piquete, porém, o maciço também engloba o município mineiro de Marmelópolis.

A trilha que dá acesso ao Pico dos Marins basicamente manteve-se a mesma desde 1985 até 2022 (Figura 1). Ainda pretendo obter uma aerofoto da região do ano de 1978 que faz parte do acervo da empresa Base Aerofotogrametria para enriquecer este documento.

Estacionam-se os veículos no atual refúgio ou base do Marins, onde em 1985 residia o senhor Afonso Egídio Xavier e família. Dali segue-se a pé uma trilha pela mata que sobe em direção ao Morro do Careca, por vezes cruzando uma estrada de terra que levava ao morro ou por ela seguindo. Na primeira vez em que lá estive, nos dias 20 e 21/08/2005, ainda era possível subir de carro até o Morro do Careca, pois lá chegamos com um Renault Twingo e um Volkswagen Gol. Na segunda vez em que lá estive, em maio de 2008, a estrada já estava fechada, ainda assim conseguimos percorrê-la com um Suzuki Vitara. Na terceira vez, Páscoa de 2011, já não mais subiam veículos ao morro e na quarta vez em 17/06/2022 constatei que árvores e erosões bloqueavam a estrada de chão que somente era percorrida a pé.

O Morro do Careca situa-se a 1.792 m de altitude, dali a trilha adentra uma pequena porção de mata nebular e logo se inicia a subida em campos de altitude e pedras. Neste trecho a trilha percorre basicamente a linha divisora de águas que serve como limite estadual. À mão esquerda de quem sobe as águas drenam para o ribeirão Saiqui, afluente do rio Lourenço Velho, tributário do rio Sapucaí, bacia do rio Grande, estado de Minas Gerais. À direita encontra-se o ribeirão Passa Quatro (ou dos Marins), bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, estado de São Paulo. O relevo na porção mineira é suave se comparado ao abrupto e profundo vale que neste trecho da trilha existe no lado paulista, denominado pelo explorador Márcio Bortolusso como “Cânion do Marins”.

Após o Careca, o próximo ponto de referência na trilha é o chamado Portal, uma rocha fendida no centro – ou duas pouco afastadas - por onde uma pessoa pode passar (Figura 2). Os pontos de referência são escassos na montanha por isso é bom enfatizá-los neste texto, seus nomes são atribuídos pelos montanhistas de acordo com a aparência percebida e podem mudar ao longo do tempo. Ressalta-se que do Careca até meio caminho do Portal a trilha tem aspecto de chão batido, pelo menos após 2005, o que é visível nas imagens de satélite do Google Earth. Em 1985 a quantidade de montanhistas era menor, mas uma imagem aérea em data próxima sanaria a dúvida.

Adiante do Portal a trilha continua subindo e deriva-se à esquerda para contornar um cocuruto, o morro da Cruz de Ferro (Figura 3). Nesta derivação é visível uma rocha com formato de golfinho apoiada sobre outra, conhecida como Pedra do Golfinho (Figura 4). Vale destacar que até os anos 1950, segundo consta no livro Operação Marins, a trilha seguia sem desviar do morro e passava pela Cruz de Ferro. Esta variante original foi fechada pelo guia Carlos Vieira por motivos não citados na obra. O fato é que existe um paredão de rocha quase vertical na base do morro, que demandaria do montanhista subir por fendas usando as mãos para pouco adiante baixar novamente.

O senhor Afonso Ribeiro de Freitas (não confundir com o Xavier), nasceu em 1962 e sobe o Marins desde os 7 anos. É guia da montanha, explorador e morador da região abaixo do Pico no lado mineiro. Contou-me em 18/04/2022 que quando tinha entre 11 e 12 anos subiu uma única vez pela trilha da Cruz de Ferro, com seu avô. Na mesma conversa ele me relatou que esta Cruz foi ali colocada por um padre que pretendia rezar uma missa no cume do Marins, mas por estar fora de forma física não logrou chegar ao seu destino, abreviando a subida, rezando a missa e fincando a cruz neste morrote. Isto se passou antes de ele nascer (1962) e o senhor Afonso Egídio Xavier teria participado da missa. A importância da Cruz de Ferro reside em ser a única estrutura construída pelo homem que servia de ponto de referência e aparece no croqui da Polícia elaborado à época do desaparecimento do escoteiro Marco Aurélio. E 17/06/2022 não consegui encontrar a Cruz de Ferro, o guia Afonso me havia dito que também não a encontrou em suas passagens recentes por lá.

Após contornar o morro da Cruz de Ferro a trilha adentra uma ‘sela’ topográfica, uma espécie de ‘colo’ mais ou menos plano entre dois morros. Tal sela vista por imagem de satélite parece ser uma falha geológica. É nesta sela que existe uma entrada mais ou menos suave para o Cânion do Marins (que não é a trilha do cume), à mão direita de quem sobe. Foi aqui, em 16/04/2018, que o corredor de montanha Gilbert Eric Welterlin se desviou da trilha e entrou no Cânion, conforme registro do seu relógio GPS (Figura 5).

Depois da ‘sela’ a trilha envereda por um morro bem íngreme, sempre entre pedras, e adiante faz um contorno à esquerda para desviar de uma face quase vertical e intransponível a pé. Ao final deste desvio há um desnível de uns 5 metros, conhecido como Elevador, uma parte que exige o uso das mãos segurando na fenda para vencer a diferença de altura (Figura 7). É a única parte da trilha que requer escalar, ainda que sem cordas, embora perfeitamente possível para uma pessoa comum que receba ajuda de outros.

Continuando a subida por lajeados íngremes de rocha, chega-se num platô, uma área mais ou menos plana em que existem águas das vertentes que se acumulam e formam o Ribeirão Passa Quatro, ou ‘Água’ do Marins (Figura 8). Estas águas escoam para o Cânion do Marins, bacia do Rio Paraíba do Sul (SP). Neste local é possível avistar, a partir da trilha, o Pico do Marinzinho à esquerda e o Pico dos Marins em frente. Após este platô existe a parte final da trilha que é o ataque ao cume.

4      Análise do croqui da Polícia

O croqui elaborado pela Polícia paulista à época das investigações é, em minha visão, o documento primário mais importante para entender os locais onde ocorreram os fatos (Figura 9). O croqui, embora não seja um mapa, apresenta as posições relativas e as direções aproximadas. Vamos nos concentrar em três fatos que forçaram o grupo a desistir da subida ao cume e retornar para a base: (1) ferimento de Oswaldo; (2) separação de Marco Aurélio dos demais e (3) caminho de retorno do guia e os três escoteiros. Uma importante constatação é que as três ocorrências se dão antes da Cruz de Ferro para quem desce a trilha no sentido cume-base. Infelizmente o desenho não assinala a pedra em que foi avistada a marca de giz ‘240’ deixada por Marco Aurélio, mas podemos inferir que sua localização é também antes da Cruz de Ferro sentido cume-base, do contrário os demais escoteiros não a teriam visto.

(1) Ferimento de Oswaldo. O documento gráfico destaca um “paredão de pedra” como sendo o “local onde Oswaldo feriu-se, segundo todos os informantes do grupo”. Não se sabe se este paredão de pedras seria o local conhecido por Elevador (Figura 7). Seria necessário buscar por fotografias da reconstituição do caso no inquérito policial, caso existam, e compará-las com as dos dias atuais pois o terreno não mudou nestes 37 anos. No croqui consta uma estimativa de mais ou menos 1.100 metros de distância ente o local do ferimento e o morro do Careca, porém não sabemos como foi realizada esta medição na época haja vista a distância medida em linha reta pelo Google Earth do Careca até a Cruz de Ferro ser de 1.300 m.

(2) Separação de Marco Aurélio dos demais. O desenho da Polícia assinala que a “possível direção tomada por Marco Aurélio” é no rumo da Cruz de Ferro, para quem desce a trilha. Aqui se abre a possibilidade de que Marco Aurélio tenha se desorientado na descida mantendo-se à esquerda e entrando no Cânion do Marins no mesmo ponto em que Gilbert Eric Welterlin entrou em 2018 (Figura 6). Neste ponto da trilha não há um chão batido que permita seguir o caminho inequivocadamente. Por experiência própria, em minha quarta subida ao Marins (2022), com um casal de amigos, nos desgarramos da trilha algumas vezes por não mais de trinta metros, pois como seguíamos com um GPS Garmin Etrex Vista alimentado com o trajeto (tracklog) nos foi possível retornar ao caminho correto. Acrescenta-se o fato de que em 1985 não deveriam existir as pinturas de setas nas rochas indicando o caminho.

(3) Caminho de retorno do guia e os três escoteiros. Aqui se nota que o “caminho de descida de Juan” conduziu o grupo à direita da trilha principal na descendente. A “trilha feita por Juan no mato fechado” indica que foi muito penosa a caminhada por mata fechada até alcançar as duas casas da fazenda do senhor Filinho por detrás, ou seja, de quem vem da mata. Antes de chegar à fazenda o grupo cruzou um córrego. Aqui o croqui conflita com a informação constante no livro Operação Marins, segundo o qual o grupo se deparou com um córrego de forte correnteza (somente poderia ser o Ribeirão Saiqui), desviou, chegou a uma estrada de terra, caminharam seis quilômetros e chegaram à casa do senhor Filinho. Mas a análise geográfica nos permite ver que para adentrar o vale que leva à casa do sr. Filinho, o grupo teria que ter se desviado à direita no mais tardar na região 50 metros antes de chegar à Pedra do Golfinho (Figura 10). Se o desvio ocorresse no Portal eles adentrariam um vale cuja saída é a estrada do Saiqui, próximo ao Sítio Bicho do Mato (que não existia à época, mas aqui utilizo como ponto de referência). Criou-se uma ‘lenda’ de que a última marcação de giz de Marco Aurélio que foi avistada pelos demais ocorreu no Portal, há vídeos no YouTube reproduzindo tal hipótese. Porém, tal afirmação não encontra guarida no croqui da Polícia e no fato inegável de que os escoteiros chegaram à casa do sr. Filinho vindos por detrás da segunda casa (da mata). Para concluir o acima citado, assumo como certo de que o grupo após se desviar à direita foi sempre descendo, o que invariavelmente os levaria ao fundo de vale. Do contrário teriam que encarar uma subida de uma vertente para sair em outro vale. 

5      O Cânion do Marins e a hipótese de desorientação

Já nos referimos ao Cânion do Marins, um local extremamente inóspito e instransponível (Figura 11). Em minhas pesquisas, localizei unicamente o relato escrito de Márcio Bortolusso, explorador e fotógrafo, que empreendeu no ano de 2001 uma tentativa de percorrer todo o Cânion desde a água do Marins até as fazendas do vale do Paraíba. Reproduzo aqui suas palavras na íntegra, conforme extraídas do seu site www.photoverde.com.br em 28/08/2022:

EXPEDIÇÃO CÂNION DO PICO DOS MARINS - 2001

Uma das minhas primeiras expedições, com logística bem mais simplificada que as atuais, mas sem dúvida uma das mais emocionantes e engrandecedoras. Em solitário, 1ª descida do Ribeirão do Passa Quatro a partir da nascente do Pico dos Marins, uma das mais altas do Brasil, expedição minimalista que na época resultou na exploração do cânion mais alto já percorrido no país (a partir dos 2.200 m.s.n.m.).

No total foram mais de 40 km de marcha, sendo que no primeiro dia acabei subindo até o cume em poucas horas, retornei até o estacionamento devido a aproximação de uma tempestade e subi novamente voando na sequência (correndo), fazendo em menos de uma hora o trajeto de cerca de quatro horas.

Ao longo de dois quilômetros percorridos pelo acidentado cânion precisei rastejar centenas de metros por tocas e passagens tão estreitas que cheguei a entalar, realizar dezenas de rapéis usando apenas ancoragens naturais, saltar sobre intermináveis blocos e fendas profundas e rasgar uma das matas mais fechadas que eu já encarei... tendo que recuar várias vezes após horas de labuta. E depois de muito sofrer com forte sede, calor, dores e cansaço, decidi abortar o objetivo inicial de alcançar as distantes fazendas localizadas ao fundo do Vale do Paraíba e fui forçado a empreender uma desesperadora rota de fuga que incluiu escaladas sem corda (curtas, mas que me deixaram aterrorizado) e a travessia de uma sinistra garganta que me obrigou a instalar rapeis em duvidosas raízes e arbustos em paredes formadas por instáveis blocos e vegetação - jamais esquecerei a tensão e a quantidade de terra e pedras que tomei na cara durante a descida até o fundo de uma greta tão escura que precisei da lanterna para sair.

Mas pior do que me esfolar entre ilhas de espinhais ou suar como um condenado, por noites intermináveis eu bivaquei entocado entre pedras úmidas e arbustos pontiagudos apenas protegido por um pedaço de lona plástica em madrugadas de até -10º C. Minimalista ao extremo, buscando o menor peso e volume nesta expedição, além de dispensar barraca, isolante e saco de dormir eu arrisquei ir apenas com uma cargueira, uma vestimenta de neoprene (incluindo finas botas de Mergulho que destruíram os meus pés após dezenas de quilômetros), uma camiseta e um casaco (sempre secos), uma corda semi-estática de apenas 16 metros (com certificação NFPA para aguentar afiadas quinas), um capacete com lanterna, meia dúzia de fitas e mosquetões (incluindo para um freio e uma cadeirinha improvisados), um jogo de entaladores tipo stopper, um kit de sobrevivência e Primeiros Socorros, lanches prontos (dispensando panela, fogareiro e combustível) e, lamentando mais que pela fome e sede, apenas uma câmera Sea & Sea Motormarine II, a minha velha guerreira Canon T-90 com uma lente 28-70 e uns 3 ou 4 "volumosos" filmes Kodak Ektachrome E100 VS.

Assim que alcancei as altas e seguras cristas da rota “normal” que leva ao cume do Pico dos Marins vibrei com mais um “nasci de novo”. E, cheirando como uma capivara, cambaleante devido à fraqueza e sugado devido aos duros dias e longas noites (emagreci uma média de um quilo por dia), retornei para casa comemorando pelo enorme aprendizado, que me fez evoluir em poucos dias mais do que em anos em uma cara faculdade. Presságio de novas explorações em cânions intocados? Quem sabe... Gratidão eterna à revista Adventure e as marcas Half Dome, MARES - just add water, SEA&SEA Underwater Imaging e By.

Do relato de Márcio podemos ter uma ideia do desafio que o experiente explorador encetou para conseguir sair com vida do Cânion, mesmo se preparando para a empreitada. Ainda do relato advém a constatação de que o Cânion é um lugar geográfico em que o risco de morte é altíssimo. Esse fato é corroborado pela evidência de que nenhuma propriedade rural requereu posse desta área no Cadastro Ambiental Rural (CAR), essa porção de terra ao que tudo indica sequer foi desbravada pelos colonizadores.

Se Márcio de lá retornou com vida, infelizmente o mesmo não ocorreu com o corredor de montanha Gilbert Eric Welterlin, que adentrou no Cânion em 16/04/2018 e foi encontrado morto em 05/05/2018. O corredor empreendeu uma tarefa hercúlea para salvar sua vida, e pereceu a apenas 200 metros de distância de uma pastagem (Figura 12). As minhas sinceras condolências à sua esposa e família, se aqui o cito é para que possamos inferir com seu caso um paralelo ao caso Marco Aurélio. O corpo de Welterlin foi encontrado pelo produtor rural Rafael dos Santos Silva que ao manejar o gado em um pasto sentiu um forte odor e pensando se tratar de um boi adentrou a mata até se deparar com o corpo de Eric recostado sobre uma pedra ao lado do curso d’água que forma o Cânion. Se estivesse ventando em outra direção jamais saberíamos hoje a trajetória percorrida por Eric (Figura 13 e Figura 14).

A hipótese de que Marco Aurélio se desorientou na trilha surge de uma noção de probabilidade, parte-se do que é mais provável para o menos provável. É comum que pessoas se percam no Pico dos Marins quase todos os anos, informação que me foi passada por um bombeiro de Itajubá muitos anos atrás. Sem dúvida, se perder na trilha é muitíssimo mais provável do que outras hipóteses. Os que se perdem são encontrados depois de um tempo, e nem todos os casos são noticiados. Apenas dois casos permanecem sem solução, o de Marco Aurélio Bezerra Bosaja Simon em 1985 e o de João Carlos Xavier em 1989. Se assumirmos que a causa mais provável do desaparecimento de Marco Aurélio foi a desorientação, então o local geográfico com o maior risco de não retorno é o indubitavelmente o Cânion do Marins, conforme ficou demonstrado pelo relato de Bortolusso e o caso Welterlin. A esperança de encontrar vestígios de Marco Aurélio reside em delimitar as buscas no talvegue do Cânion (pois o terreno empurra o caminhante lá) e na área de mata fechada, pois os campos abertos foram explorados de helicóptero à época. Vejo que os detectores de metal portáteis desempenhariam papel fundamental nesta busca, pois o escoteiro levava uma fivela de cinto metálica de tamanho grande. Qualquer expedição de busca deve levar em conta a segurança em primeiro lugar, planejamento cuidadoso e participação das autoridades (mateiros, montanhistas, bombeiros, grupamento de selva do Exército e outros). Por fim, andei pesquisando sobre drones com detectores de metais existentes no mercado, porém os testes forneceram resultados em condições de grama baixa e metais à superfície. É possível que a tecnologia avance no futuro e possa ser aplicada ao caso.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Em busca da araucária gigante de Castro, PR.

Desde 2012, minha namorada Marianne e eu estávamos atrás de uma araucária enorme que constava no guia turístico da cidade histórica de Castro no Paraná. O fôlder indicava a existência de uma árvore com 1,97m de diâmetro, 6,21m de circunferência e 45m de altura na Fazenda Santana, propriedade do Sr. Moacir Antônio Carraro, a 35km do centro de Castro, nenhuma informação a mais.
Na internet nunca havia conseguido informações sobre a tal araucária, especialmente alguma indicação de como chegar ao local. No dia 30 de dezembro de 2013, nós dois precisamos ir a Castro e aproveitamos para buscar a Araucária. No posto de informações turísticas ninguém conseguiu nos informar onde ficava a Fazenda Santana, o mesmo nas casas de agropecuária, tampouco conheciam o proprietário sr. Moacir, e as pessoas estavam muito interessadas em ajudar, pois ligavam para cá e para lá em busca de informação (um povo muito gentil!). Foi na hora do almoço que a Marianne teve a ideia de ligar para rádio da cidade, a Antena Sul, talvez eles pudessem anunciar no ar pedindo alguma informação para localizar a Fazenda. Por fim, ao explicarmos nosso problema, alguém da rádio sabia e nos passou o telefone do Sr. Moacir. Ao ligarmos no número fornecido atendeu Rodrigo Carraro, filho do Sr. Moacir, e soubemos que seu pai falecera em 2012. Rodrigo nos explicou que a Fazenda Santana dista 25km do matadouro da cidade, no bairro Abapã, mas como Rodrigo reside em Ponta Grossa era o matadouro dessa cidade que ele se referia, eu que estava em Castro procurei por seu matadouro e saí em direção ao Bairro Abapã, rodamos mais de 100km perguntando a várias pessoas pela Fazenda Santana e nada encontrei.
Ao chegar em casa fiquei muito abatido por não ter encontrado a Araucária, não queria mais importunar a família Carraro, e resolvi olhar nas minhas cartas topográficas do exército até que localizei a Fazenda e tracei uma rota para lá chegar a partir de Carambeí. As coordenadas da sede da Fazenda Santana são:

25º 00' 48" S e 49º 56' 41" W

No dia 31/12/2013 chegamos à Fazenda por volta das 14h e falamos com Ervin Carraro, outro filho do sr. Moacir, e pedimos para visitar a Araucária gigante, visto se tratar de uma propriedade particular. Ervin nos permitiu a visita e indicou a localização da árvore. Seguindo as indicações conseguimos localizar a enorme araucária na cabeceira de uma grota, imponente e grandiosa, com seus 45 metros e 800 anos de idade, cercada de samambaias e outras vegetações mais altas. Meus parabéns à família Carraro por manter preservada essa maravilha da natureza, que há oito séculos repousa tranquila bem próxima do divisor de águas da bacias do Rio Tibagi e do Rio Ribeira de Iguape. Abaixo segue um vídeo e algumas fotos da referida araucária:



Diâmetro: 1,97m. Circunferência: 6,21m. Altura: 45m. Idade: 800 anos.


Sede da Fazenda Santana. coordenadas: 25º 00' 48" S e 49º 56' 41" W.


quinta-feira, 14 de junho de 2012

Nos arredores de La Paz: Chacaltaya e Valle de la Luna

A 35 km de La Paz, na cordilheira real, se encontra a estação de esqui de Chacaltaya, a 5.300 msnm. É a estação de esqui mais alta do mundo, porém hoje em dia não há mais neve suficiente e ninguém consegue esquiar, tudo culpa do aquecimento global.  O Cerro Chacaltaya está situado a 5.421 m e numa de suas encostas há um glaciar que vem diminuindo gradativamente desde os anos 1940, e isto é um fato preocupante pois estes glaciares abastecem os rios na estação seca e o seu desaparecimento dimuinuirá a vazão dos rios. Curiosamente a estação só funcionava durante o verão, pois os meses úmidos proporcionavam a neve.
Chacaltaya (encosta nevada) visto da estrada de cascalho.
Alpacas no caminho para Chacaltaya.
Nós pagamos um táxi para nos acompanhar o dia todo (Bs400 = R$100), mas existem vans que fazem o passeio por Bs100/pessoa. O interessante é que nosso taxista Augustín não conhecia o local e prometeu levar a família. O caminho para Chacaltaya é de rípio (espécie de cascalho) e bem conservado, passa pelo canal de água bruta que abastece La Paz. A água de La Paz é diferente, o sabonete e a pasta de dente quase não fazem espuma, creio que tenha muito carbonato. De alguns pontos da estrada é possível avistar o lago Titicaca e também o majestoso Huayna-Potosí com seus 6.088m.
Canal de água bruta que abastece La Paz.
Posando para o Huayna-Potosí nublado ao fundo
 Subindo para a estação, pelos estreitos cortes na rocha da estrada, minha mãe começou a perceber uma chuva diferente, era a neve que pela primeira vez presenciávamos caindo, foi muito bonito pegar os flocos que pousavam na roupa, em alguns flocos até podíamos ver as tão faladas geometrias de beleza inigualável. Quando chegamos no abrigo Chacaltaya eu estava bêbado pela altitude, Denise e Ester nada sentiam, que incrível isso! Acho que consumo mais oxigênio do que elas. A temperatura estava na casa dos -6ºC, e mesmo assim resolvi subir o Cerro, tomando neve no rosto, só conseguia dar 10 passos seguidos e tinha que parar e respirar, foi árdua a caminhada, mas como estava ali tive que subir, quem saberia quando outra oportunidade como essa iria aparecer.
Chegada ao abrigo Chacaltaya (estação de esqui) sob neve a 5.300 msnm.
No cume do Cerro Chacaltaya a 5.421 msnm.
 A subida ao Chacaltaya foi uma oportunidade única de estar a mais de 5.000 m sem ter que escalar uma montanha (o que ainda pretendo fazer), e sentir o que é o ar rarefeito. Um dia após este passeio tive que ir ao médico pois estava com dor de cabeça, o doutor me explicou que meu coração teve que bater mais rápido e forte para compensar a falta de oxigênio e por isso a pressão sanguínea aumentou e causou dor de cabeça e também tive uma disritmia cardíaca e tomei um remédio para voltar a regular os batimentos (creio que me esforcei demais subindo o Cerro).
Em contraste com a altitude do Chacaltaya rumamos para a zona sul de La Paz, onde fica o Valle de La Luna, uma região a menos de 3.000 msnm e com a temperatura na casa dos 20ºC. É esse contraste que leva as agências de turismo a visitar Chacaltaya e o Valle no mesmo dia, para que o viajante sinta a influência da altitude no clima. O Valle fica em um trecho do Rio Choqueyapu à jusante do centro da cidade, e nessa região se localizam os bairros mais nobres de La Paz, onde vivem os habitantes com ascendência europeia. Percebam os contrastes: a população mais pobre vive no altiplano onde é frio e o ar é rarefeito, e os ricos vivem no clima ameno com mais oxigênio!
O horizonte visto do Valle de la Luna. Vista para jusante do vale (que é também o sul).
O Valle de la Luna é uma formação sedimentar de argila que se assemelha à paisagem do nosso satélite natural. A erosão esculpiu distintas formas no material, e por meio de trilhas, o visitante explora o sítio, cruza algumas pontes de madeira, para em alguns mirantes e tenta encontrar as formas de animais que constam nas placas indicativas. A trilha não é exaustiva e qualquer pessoa desacostuma à caminhadas é capaz de percorrer, na verdade há mais de uma trilha, mas recomendo a completa. Nesse dia fizemos nosso último passeio em La Paz, para no dia seguinte rumar ao grandioso Salar de Uyuni.
El salto de la viscacha (roedor andino). Não me perguntem aonde!







domingo, 3 de junho de 2012

Nos arredores de La Paz: Sítio Arqueológico de Tiwanaku.

Como ocorre em quase todas as cidades do mundo, muitos dos atrativos de La Paz estão localizados fora da área urbana. O sítio arqueológico de Tiwanaku (ou Tihuanaco) dista uns 70 km da capital boliviana, indo em direção ao lago Titicaca. Foi ali, às margens do lago, que floresceu uma próspera cultura por volta de 1.500a.C. Inicialmente os tiwanakotas eram agricultores prósperos que irrigavam suas plantações com canais vindo do lago titicaca, o excedente de produção permitiu e promoveu o aparecimento de um núcleo urbano, e este núcleo se tornou referência na religião, astronomia e arquitetura.
Vista geral do sítio arqueológico de Tiwanaku, situado a mais de 3.800m
O sítio arqueológico possui uma pirâmide, alguns portais de entrada do templo, e alguns monolitos (estátuas gigantes). Os muros laterais da pirâmide possuem encaixe perfeito entre os blocos de pedra, os monolitos lembram muito os da Ilha de Páscoa, o que me fez recordar da teoria do explorador norueguês, Thor Heyerdahl, que no livro A Expedição Kon Tiki sugere que os povos sul americanos povoaram as ilhas do Pacífico e chegaram até a Polinésia em suas jangadas de tora de balsa (Ele as reconstruiu e fez a viagem do Peru à Polinésia que durou 101 dias em 1947!).
Um monolito esculpido na rocha Andesita (Andesito). Notem a estratificação do material.
O entalhe das pedras é bem preciso.
Os portais do templo foram executados com maestria e precisão cirúrgica, eles dominavam o trabalho com metais, há quem diga que os Incas incorporaram muito de seus conhecimentos. Há um museu onde se pode entender toda a cronologia da civilização, admirar as cerâmicas e artefatos metálicos daquele povo e diversas outras informações. O colapso desta civilização não é consenso entre os pesquisadores, todavia acredita-se que um período prolongado de seca fez baixar o nível do Titicaca, prejudicando as plantações que eram a base econômica da sociedade. Aqueles que gostam de história, como eu, devem visitar Tiwanaku!
Los gringos de la promoción (excursão). Brasil, Itália, França, Eslovênia e  EUA representados na mini Babel. 
Para fazer este passeio basta consultar uma das inúmeras agências de turismo da Calle Sagárnaga ou diretamente no seu hotel. As vans saem pela manhã e voltam no meio da tarde. Nessas excursões se conhecem pessoas de todo o mundo e se iniciam muitas amizades de Facebook, que podem vir a se tornar possibilidades de hospedagem em futuras viagens. Os turistas também trocam muitas informações e dicas de viagem entre si, um casal de franceses nos indicou onde nos hospedar em Uyuni e nós os retribuímos dizendo onde comer bem em La Paz, dentre milhares de outras conversas em que cada um relata as qualidades e defeitos de seu país. Houve um momento no caminho para Tiwanaku em que eu estava falando (ou seria enrolando) em 3 línguas ao mesmo tempo, quando dei por mim falava português com o americano, inglês com o boliviano e espanhol com a minha mãe....são ossos do ofício!


terça-feira, 29 de maio de 2012

A cidade de La Paz - Parte II

Continuando nossa caminhada por La Paz, nós três (Daniel, Denise e Ester) visitamos o recém criado Parque Urbano Central, que ocupa o vale e as encostas íngremes do Rio Choqueyapu, este se encontra tamponado (canalização fechada) em alguns trechos. Essa foi uma maneira de se criar uma área verde e remover edificações das áreas de risco, pois a questão dos movimentos de solo é muito mais grave do que as que existem nas áreas de risco do Brasil, lá a topografia e o tipo de solo são mais favoráveis a este fenômeno. O parque ainda é pouco frequentado pelos turistas, creio que por ser novo, contudo é um local agradável para passear e admirar os jardins.
Aspecto do Parque Urbano Central.
Algumas passarelas permitem a passagem sobre o sistema viário que secciona  o parque.
Inicialmente os colonizadores haviam fundado a cidade de Nuestra Señora de La Paz no altiplano, onde hoje fica El Alto, mas as intempéries do clima (vento e frio) obrigaram a mudança para o vale do Rio Choqueyapu. O vale é bem profundo e em nossa andança passamos por novas pontes estaiadas que ligam os lados da cidade, provavelmente obras de construtoras brasileiras, são locais de onde se podem tomar fotos magníficas. 
Ponte estaiada recém construída que liga os dois lados do vale do Rio Choqueyapu.
Encontramos numa destas pontes, próxima à residência oficial de Evo Morales, Paola, uma advogada boliviana que andava com sua filha pequena, muito gentil ela nos explicou aspectos gerais de La Paz e da Bolívia, também nos convidou para conhecermos sua casa e tomarmos refrigerante. Após trocarmos e-mail e facebook, a gentil Paola nos encaminhou a um táxi e resolvemos fazer um city tour de 2 horas pelo qual pagamos 80 bolivianos (equivale a R$20 por 2 horas de táxi, algo impensável em terras tupiniquins). 
Nossa amiga boliviana Paola e sua filha, caminhando numa das pontes estaiadas.
O taxista nos levou em alguns miradores e subimos até o altiplano, onde vimos muita pobreza e sujeira, como em toda periferia latino americana. Lá no altiplano a vista é esplêndida, o Illimani ao fundo da cidade proporciona uma figura única e também se pode avistar o restante da cordilheira real resumida na imagem do Huayna-Potosí (6.088m). Existem muitas feiras livres no altiplano, cuja função é receber os produtos agropecuários de várias regiões do país e abastecer a cidade, antigamente o trem realizava o transporte, mas hoje o rodoviarismo avança sobre a Bolívia. Muito pela influência do Brasil, que tem investido na construção de estradas de rodagem, muitas das quais com cruzamentos em nível com ferrovias, praticamente um decreto de morte a este modal tão importante de transporte. Eu que sou um apaixonado por trens e ferrovias me senti mal porque meu país além de desmantelar as suas ainda colabora com dilapidação do patrimônio alheio, malditos interesses econômicos!
Local onde o altiplano se abre para o vale, ótima vista do Illimani.
Nosso taxista me fez repensar sobre o conceito de espanhol fluente, pois até então eu me julgava bom na língua de Cervantes, me comunicando bem com as pessoas, mas aquele homem bem nutrido e apreciador da boa alimentação falava enrolado e me exigiu um esforço acima do normal para compreender suas palavras. É comum na Bolívia e no Peru que as pessoas falem ou compreendam a Lengua Quechua, herança dos incas, mas esta língua está se perdendo com o passar do tempo. E na Bolívia é também comum o idioma Aymara, que se fala mais no sul do país (região de Oruro), digo isso pois nosso taxista era descendente de Aymaras e não sabia falar a língua, mas a pronúncia do seu espanhol sei de onde veio!

Na Avenida Busch nº986 o taxista nos deixou no restaurante La Chuquisaca, especializado na comida típica da região de Sucre, notadamente o chorizo chuquisaqueño, que foi a melhor comida que provei em nossos 28 dias de viagem pela Bolívia e Peru. Nem mesmo na cidade de Sucre, que visitamos posteriormente, consegui encontrar comida típica tão deliciosa, por isso deixo a dica aos que forem a La Paz. Lembro que nós três comemos muito bem pagando Bs.120 (R$30) e isto é um padrão alto para o boliviano comum, os preços na Bolívia são realmente muito baratos para os brasileiros, o real está muito forte em relação ao boliviano de tal maneira que se pode ter uma viagem de padrão alto gastando pouco em comparação aos outros países da América do Sul.
Uma mostra da deliciosa comida chuquisaqueña. 
Toda esta caminhada resultou, para mim, em pressão alta e dor de cabeça (que raramente tenho no Brasil), pois não me aclimatei aos 3.600m da cidade e logo nos primeiros dias já saí caminhando. Tomando mate de coca obtinha alívio do sorochi (mal de altitude) por uns minutos e depois os sintomas voltavam, também masquei a folha que chega a deixar a língua amortizada e dava na mesma, alívio momentâneo. Cheguei à conclusão de que a coca somente mascara o sintoma do sorochi e o melhor a se fazer nesses casos é tomar o sorochi pill, um remédio encontrado em qualquer farmácia e que resolve o problema, e foi o que fiz.




domingo, 27 de maio de 2012

Uma viagem à Bolívia: A cidade de La Paz.

Fazia alguns anos que minha mãe havia lançado a ideia de visitar a Bolívia, mas as condições econômicas não eram tão favoráveis e minha mãe trabalhava em São Paulo sem dispor de tempo para tal. O tempo passou e meu gosto por montanhas foi aumentando, pois conheci muitos dos picos da Mantiqueira enquanto fiz mestrado em Itajubá. 
Depois que comecei a trabalhar em São Paulo surgiu a oportunidade de visitar o país andino em minhas primeiras férias remuneradas, e em janeiro de 2011 comecei a estudar bastante sobre a Bolívia, li relatos de viajantes e guias turísticos, também passei horas em frente ao Google Earth visitando remotamente aquele país e vendo as fotos do Panoramio que as pessoas postavam.
Inicialmente cogitei a ideia de ir de carro até La Paz, mas os mais de 3.500 km que a separam de Atibaia não me inspiraram confiança, e o tempo era escasso para tal, embora reconheça que teria sido uma viagem e tanto! Marquei minhas férias para Outubro e comprei as passagens para o dia 2 daquele mês de 2011, voamos pela companhia aérea TACA, cujos serviços temos muitos elogios a tecer. O voo fez escala em Lima, pois assim era mais barato, e, curiosamente, Lima era o destino final de nossa viagem (mas só pudemos observá-la do Aeroporto naquele momento).
No aeroporto de Lima já tomei um chá de coca pois estava preocupado com a altitude de La Paz, afinal o aeroporto se localiza no município de El Alto, situado a uns 4.050 msnm (metros sobre el nivel del mar). Realmente quando desci do avião percebi que meu coração batia mais rápido, mas não senti falta de ar, embora estivesse com um leve torpor, algo parecido com a sensação de embriaguez. Minha mãe (Ester) e minha irmã (Denise) nada sentiram, a contradição é que eu (Daniel) havia pago um seguro viagem preocupado com a saúde delas!
Tomamos um táxi do Aeroporto até o hotel que ficava no bairro de El Prado, custou U$13 mas normalmente custaria 10 (tudo previamente combinado, não há taxímetro), era madrugada do dia 03/10/2011 e o taxista disse que não estava tão frio, embora estivesse 4ºC, pois em junho/julho do mesmo anos uma onda arrasadora de frio matou muitos moradores de rua. Ainda paramos em um mirante para tirar fotos da cidade e suas luzes noturnas.
Vista noturna de La Paz
Mal consegui dormir naquele finalzinho de noite, não sei se pela altitude ou pela expectativa, e logo que raiou o dia, a segunda-feira se mostrou bem ativa e a avenida em frente ao hotel começou a se encher com o trânsito matutino e desordenado da cidade. Nosso hotel ficava em frente à Plaza del Estudiante no belo bairro de El Prado, um pouco ao sul do centro da cidade, porém muito mais agradável do que as ruas apertadas do centro. Mas depois chegamos à conclusão de que o melhor custo benefício seria nos hospedarmos no Hostal Nayra, que fica ao lado da Plaza San Francisco, que é o coração turístico da cidade, entretanto já havíamos deixado pago o Hotel El Dorado aqui do Brasil, mas não o recomendo!
Vista da nossa janela: Plaza del Estudiante no bairro El Prado. Ótima localização.
Logo saímos para andar nas redondezas, tudo era novidade e avistar o Illimani e seus 6.422 msnm foi deslumbrante, as neves eternas lá estavam ao fundo do vale qual fossem uma pintura na tela azul do horizonte. Andamos pelo parque urbano central e paramos para tomar gaseosa (refrigerante) na tenda de uma chola. A cidade me pareceu bucólica, como se houvesse parado no tempo, percebi alguns homens com chapéu, algo que gosto tanto mas quase não uso no Brasil por vergonha. 
Vista do Illimani (6.422m) e suas neves eternas na tela do horizonte.
Os belos e bem cuidados jardins de El Prado.
A informalidade predomina, seja no comércio onde existem as cholas que vendem de tudo em suas barracas (até mesmo no chão), seja nos transportes onde existem os minibuses que são equivalentes às nossas lotações, qualquer um pode pintar seu carro de táxi e sair transportando pessoas, mas os rádio-táxis são os melhores e mais seguros e podem ser reconhecidos por possuírem um letreiro em cima. O país não possui indústrias de tal maneira que esta foi a maneira de a grande maioria da população urbana conseguir prover o seu sustento.
Uma chola com sua barraca onde de tudo se encontra.